Inclusão e superação

Marco Antônio é natural de Catalão e iniciou seus estudos na Escola Pestalozzi, onde frequentava tanto o setor pedagógico quanto o de reabilitação. Por volta dos cinco anos de idade, começou a criar sinais para se comunicar, o que motivou minha busca pelo aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras). 

Na época, a Escola Joaquim de Araújo era uma instituição piloto na inclusão de estudantes Surdos em Catalão e oferecia cursos de Libras para professores e a comunidade. Dessa forma, Marco Antônio ingressou nessa escola e, no período noturno, eu, ele e seu irmão participávamos das aulas de Libras.

Ele estudou na Escola Joaquim de Araújo até o terceiro ano do ensino fundamental, quando nos mudamos para Angra dos Reis (RJ) devido ao trabalho do meu esposo. Nessa cidade, havia uma escola especializada para Surdos, hoje denominada Escola Municipal Bilíngue de Surdos de Angra dos Reis. A instituição já adotava a metodologia bilíngue, na qual a Libras é a língua de instrução (L1) e o português é ensinado como segunda língua (L2). Além disso, contava com professores surdos como referências culturais e identitárias, contribuindo significativamente para o desenvolvimento linguístico dos estudantes. Nesse ambiente, onde a Libras estava presente em todos os espaços da escola e onde havia a convivência entre pares, Marco Antônio teve um rápido desenvolvimento. Ele se tornou alfabetizado tanto em Libras quanto no português, embora ainda apresente algumas dificuldades na escrita formal, produzindo textos em interlíngua. Ele também consegue ler em português e possui conhecimentos básicos de inglês. Devido a movimentos involuntários, não tem coordenação motora para escrever manualmente, utilizando, assim, recursos tecnológicos para digitação. Marco Antônio permaneceu na escola para surdos de Angra dos Reis do terceiro ao nono ano do ensino fundamental, período em que a metodologia da Educação Bilíngue de Surdos foi essencial para seu progresso acadêmico.

Ao concluir o ensino fundamental, enfrentamos uma nova mudança, pois meu esposo foi desligado da empresa em que trabalhava. Cogitamos retornar para Catalão, mas fomos informados de que a Escola Joaquim de Araújo e as demais instituições da cidade não haviam dado continuidade ao projeto de inclusão para Surdos.

Diante dessa realidade, optamos por nos mudar para Uberlândia (MG), onde ele ingressou na Escola Estadual Bueno Brandão, uma instituição referência na inclusão de alunos surdos. A escola se destacava por oferecer Atendimento Educacional Especializado (AEE) com a presença de um professor surdo, o que proporcionava um ambiente mais acessível. Como resultado, a maioria dos estudantes surdos do município frequentava essa escola, favorecendo a socialização entre pares. Embora não seja uma escola bilíngue, a referência do professor Surdo e dos pares linguísticos é um diferencial significativo.

Com a pandemia da COVID-19, as aulas foram interrompidas, e ele cursou um ano e meio de forma presencial e outro ano e meio remotamente. Em 2021, concluiu o ensino médio e retornamos para Catalão. No entanto, devido à pandemia, levou algum tempo para retomarmos sua rotina de estudos.

Em 2023, Marco Antônio participou do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). No entanto, devido à falta de profissionais qualificados, não conseguiu realizar a redação, o que comprometeu sua possibilidade de ingresso na universidade em 2024. Diante desse desafio, ele iniciou novos projetos. Em parceria com a Escola de Games de Jataí, sob a orientação da professora Ana Paula, desenvolveu a demo de um jogo educacional voltado para a Educação Bilíngue de Surdos. Em novembro, essa demo foi apresentada na Universidade Federal de Jataí e recebeu o prêmio de jogo destaque. Além disso, foi exibida em uma das maiores feiras de tecnologia do país, a Campus Party, na edição realizada em Goiânia.

Nesse mesmo período, a Universidade Federal de Catalão (UFCAT) abriu vagas para cursos de licenciatura por meio do Processo Seletivo Interno (PSI), utilizando o histórico escolar como critério de ingresso. Por esse processo, Marco Antônio foi aprovado no curso de Matemática.

No final de 2024, ele prestou novamente o ENEM, dessa vez contando com intérpretes capacitados, o que garantiu a acessibilidade linguística necessária para que realizasse a prova de forma plena, incluindo a redação. Com isso, ele conseguiu alcançar seu sonho: foi aprovado no curso de Ciência da Computação na UFCAT.

Este é um breve relato da trajetória acadêmica de Marco Antônio. Quero expressar minha profunda gratidão a cada profissional que fez parte desse processo: diretores (as), coordenadores(as), professores(as), intérpretes, transcritores(as), cuidadores(as), merendeiras, pessoal da limpeza e motoristas. Bem como aos amigos e familiares que sempre estiveram presentes.

Meu sincero agradecimento a todos!

Fonte: Cléria Martins Lino, mãe do Marco Antônio. Mestranda em Educação - UFCAT